A pequena Elizabeth Alexandra Mary de York era uma princesa que ninguém imaginava que pudesse suceder ao trono. Então, como ela se tornou rainha? 

Em abril de 1926, o Duque e a Duquesa de York – o segundo filho de George V, Albert e a esposa dele, Elizabeth Bowes-Lyon, estavam à espera do primeiro filho. Embora o bebê não fosse um herdeiro direto, seria oficialmente o terceiro na linha de sucessão. 

A menina nasceu de cesariana às 14h40 do dia 21 de abril. Ela foi nomeada Elizabeth Alexandra Mary em homenagem à mãe, à bisavó e a avó. Como filha do segundo filho de George V, estava destinada a ser empurrada para baixo na sucessão pelos futuros filhos do tio, o Príncipe de Gales.

No início de 1927, os pais da princesa partiram em uma viagem oficial pela Austrália e Nova Zelândia e deixaram a pequena com as babás. Quando voltaram, se mudaram para uma nova casa, no endereço Piccadilly 145, perto de Hyde Park, em Londres. A propriedade possuía um elevador e um salão de baile, mas, pelos padrões reais, Elizabeth estava crescendo em uma casa normal e aconchegante como as das filhas de homens de negócios e médicos, não de princesas.

Em 21 de agosto de 1930, a irmã mais nova da futura rainha nasceu. A princesa Margaret veio ao mundo no Castelo de Glamis, na Escócia, propriedade da família Bowes-Lyon. 

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As princesas Elizabeth e Margaret com os pais, Príncipe Albert e Elizabeth Bowes-Lyon, na época Duque e Duquesa de York. (Universal History Archive/Getty Images).

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À medida que as meninas cresciam, tornou-se evidente que elas tinham personalidades muito diferentes. Elizabeth era detalhista e obediente – não conseguia dormir sem tirar a sela, alimentar todos os cavalos e alinhá-los com cuidado. Margaret era brincalhona e gostava de pegadinhas – ela culpava um amigo imaginário, chamado primo Halifax por quaisquer erros.

Em 1933, as princesas receberam uma governanta, Srta. Marion Crawford, recomendada à Duquesa de York como uma “uma boa professora, exceto quando se tratava de matemática.”

Lilibet, como era conhecida pela família, assistia aulas das 9h30 às 11 da manhã e o resto do dia era dedicado a jogos, dança e canto, com um período de descanso de uma hora e meia.

Ao contrário dos pais, que odiavam a escola, a garota tinha aptidão para aprender e gostava de história e literatura, mesmo com poucas oportunidades de estudos contínuos. A Rainha Mary criticou a educação oferecida as netas, sem sucesso.

No tempo livre, Elizabeth gostava de brincar com cães e cavalos e disse que gostaria de se casar com um fazendeiro para ter muitas “vacas, cavalos e cachorros.”

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Princesa Elizabeth e a irmã mais nova, Princesa Margaret, nos terrenos do Royal Lodge, Windsor, em 1936. (Foto por Lisa Sheridan/Studio Lisa/Getty Images).

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O rei George V faleceu em janeiro de 1936 e o ​​Príncipe de Gales assumiu o trono como Edward VIII. Como rei, ele dependia muito da namorada, Wallis Simpson. Embora a imprensa estrangeira tenha discutido diversas vezes o relacionamento dele com uma americana divorciada, os jornais britânicos permaneceram quietos. 

Somente no final de outubro, no momento em que Wallis pediu o divórcio do segundo marido, ficou claro que Edward pretendia se casar com ela. 

Em 10 de dezembro, Elizabeth, de 10 anos, ouviu gritos de “Deus salve o rei” do lado de fora da janela. Ela perguntou a um funcionário o que havia acontecido e ele disse que o tio dela havia abdicado e o pai dela era o novo rei. Diante da mudança de status, a princesa adotou uma técnica que utilizaria ao longo da vida: se prendia a rotina, tentando parecer serena. 

A família se mudou para o Palácio de Buckingham e os agora Rei George VI e Rainha Elizabeth (futura Rainha Mãe), foram consumidos por reuniões, recepções e política. O ex-rei, intitulado Duque de Windsor se mudou para a França.

As irmãs compareceram a coroação do pai na Abadia de Westminster acompanhadas pela vó, Rainha Mary. Elizabeth escreveu:

“A abadia estava coberta por uma espécie de névoa maravilhosa quando papai foi coroado, pelo menos eu pensei assim.”

Princesa Elizabeth

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A família real na varanda do Palácio de Buckingham após a coroação do rei George VI da Inglaterra. A partir da esquerda, Rainha Elizabeth (Rainha Mãe), Princesa Elizabeth, Rainha Mary, Princesa Margaret e o Rei George VI. (Hulton-Deutsch/Corbis/Getty Images).

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A Princesa Elizabeth era a herdeira aparente ao trono. A Rainha Mary intensificou o pedido em relação à educação e mais história foi introduzida ao cronograma de estudos. Em 1938, a princesa a receber aulas do vice-reitor do tradicional Eton College, Henry Marten, sobre história constitucional, o papel da realeza, os deveres e a devoção aos súditos.

O palácio e o governo trabalharam para que Elizabeth não parecesse muito isolada e sem companhia de pessoas da idade dela, a solução foi convidar vinte meninas para o palácio de Buckingham nas tardes de quarta-feira para reuniões sociais com a princesa.

Em 15 de março de 1939, tanques alemães entraram em Praga e uma segunda guerra mundial era iminente. No verão daquele ano, a família real visitou o Royal Naval College, Colégio Naval, em Dartmouth, onde o rei havia estudado. Lá, Elizabeth foi apresentada ao Príncipe Philip da Grécia e ficou fascinada por ele.

Em 3 de setembro, a BBC anunciou que a Grã-Bretanha estava oficialmente em guerra. As princesas estavam hospedadas em Birkhall, perto de Balmoral, na Escócia, e logo se juntaram ao povo em Glasgow. Depois do Natal, elas foram para o Royal Lodge em Windsor, onde as paredes rosas foram pintadas de verde para enganar os bombardeiros inimigos. A rainha recusou  a pressão para enviar as duas ao Canadá, fora do alcance inimigo.

Tropas alemãs invadiram a Dinamarca e a Noruega na primavera de 1940 e Winston Churchill se tornou tornou primeiro-ministro. As irmãs foram enviadas para o Castelo de Windsor, onde permaneceriam pelo resto da guerra – junto com as joias da coroa, empacotadas nos cofres subterrâneos.

Trezentas bombas foram lançadas no Windsor Great Park durante o conflito. Frequentemente, Elizabeth e Margaret eram acordadas no meio da noite e enviadas para as partes subterrâneas do castelo por dias.

Em uma época em que o apoio dos Estados Unidos era fundamental, o rei e a rainha concordaram que a herdeira ao trono falasse para os jovens da América do Norte através da BBC. No dia 13 de outubro de 1940, Elizabeth discursou, expressando a solidariedade com os que sofriam afastados dos entes queridos. O discurso foi um sucesso. 

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As princesas Margaret e Elizabeth duranteo discurso aos jovens da América do Norte em 13 de outubro de 1940. (Getty Images).

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Os bombardeios a cidades britânicas continuaram até abril de 1941. A Grã-Bretanha entrou em um período prolongado de dificuldades e foi o primeiro país do mundo a introduzir o recrutamento militar para mulheres solteiras. 

No final de 1943, o Príncipe Philip passou o Natal com a família real. Ele ficou encantado com Elizabeth e com o que descreveu como o “simples prazer” da vida familiar, muito diferente da infância infeliz que viveu.  Philip voltou à guerra entusiasmado com a ideia de se casar e o casal passou a trocar cartas.

A princesa completou 18 anos em abril de 1944 e logo começou a assumir funções reais. George VI insistiu que a filha se tornasse conselheira de Estado (cargo geralmente ocupado por quem tem mais de 21 anos) e ela o substituiu quando ele esteve na Itália por um breve período.

Elizabeth fez o primeiro discurso público em um hospital infantil e inaugurou o navio HMS Vanguard no outono. Mas ela queria mais – ela desejava servir no exército. O rei finalmente cedeu e permitiu que herdeira ingressasse como motorista de ambulância. 

Em 30 de abril de 1945, Adolf Hitler cometeu suicídio e as tropas inimigas se renderam. Em 7 de maio, a BBC interrompeu um recital de piano para anunciar que o dia seguinte seria conhecido como Dia da Vitória na Europa. A guerra havia acabado.

No Dia da Vitória, as princesas apareceram com os pais e Winston Churchill na varanda do Palácio de Buckingham para acenar para os súditos. Elizabeth usava uniforme militar. Naquela noite, Margaret sugeriu que elas saíssem para ver a multidão. O rei e a rainha cederam e as meninas partiram, acompanhadas por Marion Crawford e vários oficiais, andando até Park Lane antes de retornar ao Green Park para celebrar com o povo. 

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Da esquerda para a direta, Princesa Elizabeth, Rainha Elizabeth (Rainha Mãe), Winston Churchill, Rei George VI e Princesa Margaret durante as celebrações do Dia da Vitória em 1945. (War Museum, via Sky News).

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Depois que a euforia passou, o resultado da guerra foi desastroso. “Comida, combustível e roupas são os principais tópicos”, escreveu o Rei George. Ele estava exausto e tinha dificuldade para se ajustar à vida cotidiana. Ao mesmo tempo, o povo ficava cada vez mais fascinado pela futura rainha e gostava cada vez mais de vê-la realizar compromissos e fazer discursos. 

Elizabeth era extremamente popular. A Universidade de Cambridge sugeriu que ela poderia ser a primeira mulher a receber um diploma honorário, mas ela recusou a oferta.

Com o fim da guerra no Japão, em 1946, o Príncipe Philip voltou à Grã-Bretanha e foi enviado para ensinar oficiais da marinha no País de Gales. Ele começou a cortejar a princesa com seriedade, levando-a a restaurantes e shows. O Reino Unido ficou encantado com a ideia de um romance real e a possibilidade de um casamento. 

Em fevereiro de 1947, Elizabeth deixou o país pela primeira vez para uma viagem à África do Sul com os pais e a irmã, onde comemorou o 21º aniversário, revisou tropas, compareceu a um baile e fez o que talvez seja o discurso mais importante da vida dela:

“Declaro diante de você que toda a minha vida, seja longa ou curta, será dedicada ao seu serviço.” 

Embora Philip Mountbatten tenha pedido Elizabeth em casamento originalmente em 1946, George VI sentiu que a filha era muito jovem e pediu que ele adiasse o anúncio oficial de noivado em um ano. Philip propôs novamente em 1947 e o casal se casou em 20 de novembro de 1947 na Abadia de Westminster, em Londres.

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A Princesa Elizabeth e o Duque de Edimburgo durante a lua de mel em 1947 na propriedade de Broadlands, Hampshire. (AFP/Getty Images, via The Indepedent).

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Logo após o casamento, o príncipe foi enviado a Malta para servir na Frota do Mediterrâneo. A princesa o visitava alegremente sempre que podia e passava longos períodos no país, sendo que um deles durou cerca de três meses.

O primeiro filho dos dois, Príncipe Charles, nasceu em  14 de novembro de 1948, quase exatamente um ano após o casamento real. A princesa Anne nasceu menos de dois anos depois, em 15 de agosto de 1950. 

Devido à piora progressiva da saúde do pai, Elizabeth começou a assumir muitos dos deveres destinados ao monarca. George VI faleceu com apenas 56 anos de idade, em 6 de fevereiro de 1952,  quando a filha estava em visita oficial  ao Quênia, acompanhada pelo marido. 

 No momento da morte do rei, Elizabeth e Philip estavam se divertindo no Parque Nacional de Aberdare. Na tarde seguinte, Philip foi informado do falecimento do sogro e ele mesmo avisou a esposa que ela havia se tornado rainha.

A coroação de Elizabeth II ocorreu em 2 de junho de 1953 na Abadia de Westminster, em Londres. A rainha usava um traje elaborado do estilista Norman Hartnell com emblemas do Reino Unido e da Commonwealth. Mais de 8.000 convidados de quase 129 nações compareceram a coroação pessoalmente, a primeira transmitida ao vivo pela televisão.

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Rainha Elizabeth II retratada logo após a cerimônia de coroação na varanda do Palácio de Buckingham, acompanhada pelos filhos, Príncipe Charles e Princesa Anne e pelo marido, o Duque de Edimburgo em 2 de junho de 1953. (The Royal Family).

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REFERÊNCIA:

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HISTORY EXTRA. The young Elizabeth II: life before she was Queen. Disponível em: https://www.historyextra.com/period/20th-century/young-elizabeth-ii-life-queen-childhood-princess-how-monarch-royal-family/. Acesso em: 16 fev. 2022.