A série The White Queen (2013), produzida pela BBC One em parceria com o canal Starz, é baseada em três livros da escritora Philippa Gregory: The White Queen (sobre Elizabeth Woodville, rainha consorte de Edward IV), The Red Queen (sobre Margaret Beaufort, mãe de Henry VII) e The Kingmaker’sDaughter, (sobre Anne Neville, filha de Richard Neville, conde de Warwick e rainha consorte de Richard III).
The White Queen é de longe a série mais historicamente precisa do canal Starz (que também produziu The White Princess e The Spanish Princess). Mas, por ser baseada em livros que misturam realidade com rumores da época e fantasia, alguns fatos podem confundir aqueles que conheceram e se interessaram pelos períodos York e Tudor através das séries.
Estes artigos especiais abordam os principais momentos de cada um dos dez episódios de The White Queen e esclarece se foram reais, fictícios ou baseados em rumores.
Você pode conferir os artigos sobre cada episódio na lista a seguir:
Episódio 1: Apaixonada pelo Rei
Episódio 2: O Preço do Poder
Episódio 3: A Tempestade
Episódio 4: A Rainha Má
Episódio 5: A Guerra na Própria Pele
Episódio 6: Amor e Morte
Episódio 7: Veneno e Vinho
Episódio 8: Vida Longa ao Rei
Episódio 9: Os Príncipes na Torre
Episódio 10: A Batalha Final
Edward tentou começar uma guerra contra a França, mas assinou um acordo com Louis XI
Fato
George Clarence: Não foi para isso que lutamos.
Edward IV: Foi sim. Paz e fartura. Exatamente pelo que lutamos.
George Clarence: Sério? E seu legado? Não quer ser lembrado…
Edward IV: Eu serei lembrado…
George Clarence: Por ser gordo e preguiçoso.
Edward IV: E o que sugere, George?
George Clarence: Vamos tomar a França. Corrigir os erros que o louco do Henry fez com o nosso país quando a perdeu. Recuperar nossa honra.
Em 1475, após um breve período de paz no reinado, Edward IV decidiu começar um novo capítulo da Guerra dos Cem Anos e reviver reinvindicação inglesa ao trono da França. O rei acreditava que a roda da fortuna estava a favor dele depois de conseguir sobreviver ao exílio, recuperar a Coroa e derrotar os Lancasters.
Os países europeus sabiam e reconheciam a grande vitória de Edward, mas para ele, era a hora da Europa reconhecê-lo como uma força fora da Inglaterra. Edward IV era jovem e determinado a provar seu valor no campo de batalha, como Edward III e Henry V antes dele. Ele queria alcançar algo que fizesse as futuras gerações se lembrarem dele.
Na época, a relação entre Edward IV e Louis XI era ruim há muito tempo. Edward não se sentia preparado para perdoar Louis por apoiar o Conde de Warwick e abrigar Margaret de Anjou e o filho dela na França, uma vez que ele sabia que o rei da França tinha sido uma peça importante na reconciliação entre a rainha Margaret e Richard Neville.
As preparações de Edward começaram com diplomacia, arranjando tratados com os territórios vizinhos e inimigos do rei Louis antes de anunciar uma guerra. Em julho de 1474, o Tratado de Londres selou o vínculo entre Edward IV e Charles da Borgonha, uma aliança formal para invadir a França e dividir as áreas conquistadas entre eles.
Acordos também foram fechados com Nápoles, Dinamarca, Bretanha e os reinos combinados de Castela e Aragão. O rei conseguiu até mesmo um pacto para que a Escócia não invadisse a Inglaterra na ausência dele ao negociar o casamento entre o filho de James III, o príncipe James e a terceira filha de Edward, Cecily de York, ambos crianças com menos de cinco anos.
Edward IV pretendia navegar para Calais e partir em direção ao leste com destino aos territórios de Charles. Com tanto apoio europeu e o histórico militar de vitórias, parecia que Edward alcançaria um triunfo glorioso, suficiente para rivalizar com a Batalha de Agincourt (maior vitória da Inglaterra na Guerra dos Cem Anos, sob o comando de Henry V).
Não há registro da reação da rainha Elizabeth quanto à partida do marido para mais uma batalha. Definitivamente não foi uma situação fácil, a rainha havia perdido o pai e o irmão em batalhas recentes, poderia perder o marido, e o filho era uma criança de quatro anos.
Em 30 de maio, Edward deixou Londres e dez dias depois, deixou Canterbury para Sandwich. De lá, navegou para Calais e desembarcou em quatro de julho. Logo no início, o rei já enfrentou problemas. As tropas da Dinamarca não chegaram e as da Borgonha permaneciam em outro lugar. A gloriosa conquista militar rapidamente se tornou um tedioso processo diplomático.
Louis XI estava relutante em entrar em combate e potencialmente perder territórios, então aceitou a sugestão de Edward IV para negociar. Os dois reis se encontraram em Picquigny, nos Altos da França, próxima a Amiens. O escritor Phillipe de Commines, cronista da época, relatou como foi a chegada do rei inglês:
O rei da Inglaterra veio ao longo da ponte… Parecia uma Figura Real. Com ele estavam o Duque de Clarence, seu irmão, o conde de Northumberland e certamente outros lordes, Lord Hastings, seu conselheiro e outros; e havia mais de três ou quatro vestidos em tecido dourado similar ao do rei. O rei vestia um chapéu de veludo preto na cabeça, e tinha uma grande flor de Liz incrustada com pedras preciosas… Quando ele chegou a quatro ou cinco pés da barreira, ele puxou o chapéu e curvou-se a meio pé do chão.
De acordo com Commines, Louis concordou que Edward era “muito bonito e mais que interessado em mulheres”, e sugeriu que o rei inglês visitasse Paris, pois conhecia “muitas mulheres que o fariam querer voltar”. Phillipe completou dizendo que Edward era conhecido por gostar de “mulheres, caçadas e banquetes”.
Edward IV era conhecido por outros assuntos além da política, mas também era inteligente e esperto. O Tratado de Picquigny, assinado em 29 de agosto, é um exemplo. Enquanto revelava a imagem cavalheiresca, o rei coordenou um tratado que beneficiava a Inglaterra em inúmeros níveis.
Os monarcas concordavam com uma trégua de sete anos, passagem livre entre os dois países, e o casamento entre a Princesa Elizabeth de York e o Dauphin (príncipe herdeiro) da França, além do pagamento inicial de 75 mil coroas para Edward e 50 mil coroas anualmente se os ingleses desistissem de reivindicar o trono francês e deixassem a França imediatamente.
Picquigny foi um movimento inteligente de Edward. O rei garantiu independência financeira pelo resto da vida, pôde trazer as tropas de volta para casa sem derramar uma gota de sangue, acertou o comércio livre entre França e Inglaterra e encontrou uma solução para o caso de Margaret de Anjou: Louis concordou em abrigá-la na França.
O Tratado de Picquigny teve um importante efeito cultural. Com a generosa quantia de Louis, Edward criou um extenso programa de modernização dos palácios reais, como mudanças de arquitetura e separação dos espaços públicos e privados. Ainda é possível ver muitas dessas reformas nos prédios associados a Edward IV, através das imagens do Sol no Esplendor e de rosas brancas, principalmente no Castelo de Windsor.
Contudo, o Tratado não foi bem recebido entre parte dos nobres e da população. Muitos consideraram uma desonra e acreditavam que o rei “se vendeu”, como Richard Gloucester em The White Queen. Não se sabe como o verdadeiro Richard de Gloucester ou George de Clarence reagiram. Alguns historiadores acreditam que nenhum deles ficou feliz com a situação.
Todavia, George não fez qualquer tipo de acordo secreto com Louis XI e provavelmente não foi ele quem convenceu Edward a partir para a França e torná-lo regente. Edward não confiaria no irmão para um cargo tão importante.
Margaret Beaufort ajudou no parto do Príncipe Richard, Duque de York e ganhou a confiança da rainha Elizabeth Woodville
Ficção
Elizabeth Woodville: Meu Richard! Por que ele não chora? Ajude meu filho!
Elizabeth Woodville: Obrigada! Você salvou meu filho, desculpe-me. Estou em dívida.
Margaret Beaufort: Eu só quero lhe servir, Sua Graça.
No início do sétimo episódio de The White Queen, Elizabeth Woodville não quer Margaret Beaufort perto da Corte e rejeita o auxílio dela no parto de Richard de York até que Margaret salva a vida do bebê e se torna “babá” do menino e “espiã” da rainha na Corte.
Na vida real, as circunstâncias do nascimento do Príncipe Richard de Sherwsbury, Duque de York, são desconhecidas. Presumivelmente, foi um parto tranquilo e em Sherwsbury no dia 17 de agosto de 1473. Em maio de 1474, Edward IV conferiu a Richard o título de Duque de York (concedido até hoje ao segundo filho do monarca, atualmente o Príncipe Andrew) e em 1475, nomeou o filho Cavaleiro da Ordem da Jarreteira.
O relacionamento entre Elizabeth Woodville e Margaret Beaufort parece ter sido cordial, a rainha escolheu Margaret como madrinha de uma de suas filhas. Não existem evidências concretas de que Margaret tenha servido como dama de companhia de Elizabeth. O único fato que os historiadores confirmam é que ela visitava a corte frequentemente, mesmo que não vivesse lá.
Edward e Elizabeth não davam importância a Margaret antes do casamento dela com Thomas Stanley. Entretanto, eles não eram inimigos e o rei não confiscou os bens de Margaret, pelo contrário, concedeu algumas terras confiscadas de outros Lancasters. A mãe de Henry Tudor tinha pouca esperança de que o filho se tornasse rei e buscava apenas o perdão de Edward para que Henry pudesse voltar para a Inglaterra.
Margaret Beaufort e Thomas Staney participaram de vários eventos dos York, inclusive uma homenagem a Richard, duque de York (pai de Edward IV), responsável por começar a Guerra das Rosas.
Richard Gloucester e Anne Neville se casaram sem Dispensa Papal
Ficção
Anne Beauchamp: Acho que vocês não pediram a licença papal, estou certa? Vocês são primos. Precisariam da licença, mas acho que Richard apressou o casamento e disse que conseguiria depois.
Anne Neville: Sim, porque nós…
Anne Beauchamp: Richard se casou com você pelo meu dinheiro.
(…)
Isabel Neville: Annie, não pode acreditar no que nossa mãe disse. Richard ama você.
Os historiadores não costumavam acreditar que Richard Gloucester e Anne Neville tinham pedido dispensa para se casar, o que tornaria o casamento deles inválido e a acusação contra Edward IV hipócrita. Richard não poderia alegar que o casamento do irmão era inválido quando o dele também era.
No entanto, em setembro de 2005, Peter D. Clarke publicou o artigo “English Royal Marriages and the papal penitentiary in the fifteenth century”, com arquivos recém-descobertos do Vaticano, entre eles um documento sobre um dos assuntos mais debatidos sobre Richard III até então.
Richard e Anne solicitaram a dispensa papal para o Papa Sixtus IV por volta de fevereiro de 1472, quando George Clarence concordou com o casamento. O Papa Sixtus concedeu a dispensa, que foi emitida em Roma em 22 de abril de 1472. O texto do pedido do duque e da duquesa de Gloucester está disponível no artigo de Peter D. Clarke:
Richard, duque de Gloucester, leigo da diocese de Lincoln, e Anne Neville, mulher da diocese de York, desejam contrair casamento entre eles, mas como estão relacionados em terceiro e quarto graus de afinidade, solicitam uma dispensa para o mesmo.
Normalmente, a diocese é referente ao local de nascimento. A de Richard está correta, ele nasceu em Fotheringhay, que pertence a diocese de Lincoln. Anne nasceu em Warwickshire, diocese de Worcester, porém, pode ter havido um engano por conta da maioria das propriedades dela encontravam em Yorkshire.
O status de viúva de Anne Neville era evidentemente conhecido pela igreja, visto que ela é referida como mulier (mulher), não como domicella (donzela).
Afinidade em terceiro e quarto graus são relativas a união de Anne com Edward de Lancaster (primo de Gloucester) e ao fato de Richard e Anne serem primos. A mãe de Richard, Cecily Neville, e o avô paterno de Anne, Richard Neville, conde de Salisbury, eram irmãos, filhos de Ralph Neville, Earl of Westmorland e Joan Beaufort.
A data exata do casamento do Duque e da Duquesa de Gloucester é desconhecida. Perante a igreja, eles estavam livres para se casar em 22 de abril. Contudo, a cerimônia deve ter acontecido entre maio ou junho de 1472, por volta do décimo sexto aniversário de Anne.
O outro ponto da discussão entre Anne Neville e a mãe, Anne Beauchamp no sétimo episódio também é ficção. Edward IV usou o Parlamento para forçar George de Clarence a aceitar um acordo pelas propriedades da Condessa de Warwick. Primeiro, o rei tentou confiscar as terras e a fortuna, depois a declarou legalmente morta (ela perdeu o direito aos bens por ser a viúva de um traidor). As propriedades foram divididas entre filhas e seus maridos e George ficou com a grande maioria.
Richard Gloucester tinha o direito de permanecer com os bens de Anne Neville caso eles se divorciassem, sob a condição de que ele não se casasse novamente. Richard não poderia anular o casamento, pois tinha um dispensa papal e a igreja católica não costumava anular casamentos (Henry VIII é um exemplo). Um cenário em que Richard se divorcia e não se casa outra vez é inimaginável, ele era irmão do rei. O acordo parece ter sido mais uma formalidade judicial do que uma possibilidade real.
Edward IV concedeu a Richard de Gloucester permissão de para que a Condessa de Warwick pudesse morar com ele e Anne Neville no Castelo de Middleham. Por muito tempo, Anne Beauchamp enviou cartas pedindo ao rei que a deixasse sair do santuário da Abadia de Beaulieu, sem efeito. Demorou muito até que Edward a deixasse sair para morar com a filha e o genro.
Grande parte da vida e personalidade de Anne Neville são um mistério, embora Anne tenha sido rainha e uma mulher muito importante historicamente. É impossível saber com certeza como era o relacionamento dela com a mãe e se era próximo ao do retratado em The White Queen.
George Clarence acusou Elizabeth Woodville de matar Isabel Neville com bruxaria
Ficção
Elizabeth Woodville: George me acusou publicamente de bruxaria e está espalhando para todo mundo que eu envenenei a esposa dele.
Edward IV: George está bravo porque não pode ter a esposa que quer. Ele acabou de pedir para de casar com Mary de Borgonha. Eu disse que não. Imagine o que aconteceria se o deixássemos solto em Flandres.
O Duque de Clarence nunca acusou Elizabeth Woodville de bruxaria, pelo menos não publicamente. Apesar da falta de simpatia de George pelos Woodville, ele nunca insinuou que ela pudesse ter matado Isabel Neville ou o filho primogênito dele. Clarence acusou uma dama de companhia da duquesa pela morte da esposa e do bebê recém-nascido.
Em seis de outubro de 1476, Isabel Neville deu a luz ao quarto filho, um menino, na enfermaria da Abadia de Tewkesbury. A duquesa teve permissão para retornar para casa no Castelo de Warwick em 12 de novembro, onde faleceu em 21 de dezembro. O filho recém-nascido dela, Richard, morreu em 1° de janeiro. O corpo de Isabel foi levado de volta à abadia e sepultado ao lado do altar.
Diferente de The White Queen, o filho não era Edward Plantagenet, Conde de Warwick. Edward nasceu em 25 de fevereiro de 1475, quase dois anos antes da morte da mãe e do irmão.
George de Clarence lidou mal com a morte da esposa. Ele sempre foi um personagem curioso e não muito confiável, mas o luto o deixou ansioso e paranoico. Culpando bruxaria, George procurou um bode expiatório entre as damas de companhia que serviram Isabel e acusou Ankarette Twynho.
Clarence enviou uma tropa de oito homens para trazê-la de Somerset para Warwick. Lá, ela foi privada das joias e dinheiro e levada perante um júri, “Justices of the Peace” em Guildhall, que a acusou de dar a Isabel Neville uma bebida misturada com veneno. Ankarette foi condenada a morte e enforcada, ainda que alguns membros do júri a tenham visitado e implorado perdão.
O Duque de Clarence continuava vendo teorias da conspiração em todo lugar. Os Parliament Rolls mostram que Twynho não era o único alvo. John Thrusby de Warwick foi condenado por envenenar o bebê de Isabel e enforcado ao lado de Ankarette, enquanto um terceiro homem, Sir Roger Turcotes, também foi condenado, porém conseguiu escapar. Quando o neto de Ankarette Twynho apelou a Edward IV que limpasse o nome da avó, o rei concedeu perdão total.
A morte de Isabel, de apenas 25 anos, pode ter sido causada por diversos motivos, entre eles uma infecção contraída no parto, febre puerperal (como Richard Gloucester sugere a Anne Neville na série), tuberculose, ou qualquer outra doença da época.
Assim como Elizabeth Woodville alerta Anne Neville durante o sétimo episódio, George Clarence realmente estava tentando se casar de novo pouco tempo após a morte da esposa.
Em janeiro de 1477, Charles da Borgonha foi morto na Batalha de Nancy e a herança dele passou para a filha, Mary da Borgonha, que se tornou uma das mulheres mais ricas da Europa e começou a receber inúmeras propostas de casamento. Ela tinha 20 anos e possuía grande fortuna e poder.
Edward IV proibiu o casamento, temendo que Clarence, apoiado pelos recursos da Borgonha, pudesse mais uma vez tentar tomar o trono inglês. Ele sugeriu a irmã, Margaret de York (viúva de Charles e madrasta de Mary), que Maximilian, filho do imperador romano, seria uma opção melhor. O rei também rejeitou a proposta de Clarence de se casar com uma irmã de James III da Escócia.
George se sentiu traído, indignado, e recebeu as decepções de forma doentia, afastando-se da Corte e do Conselho e se recusando a ter qualquer tipo de contato com o rei.
George de Clarence foi condenado por alta traição e morto afogado em um barril de vinho
Fato
Edward IV: Tudo que posso fazer é permitir que ele escolha como vai morrer. Pela espada, forca, ou decapitação… O que ele escolher. Mas ele morrerá.
O julgamento e execução de George Plantagenet, duque de Clarence, em 1478, encerrou a turbulência política da segunda fase da Guerra das Rosas e involuntariamente facilitou a ascensão de Richard, duque de Gloucester como Richard III.
Embora Clarence tenha sido perdoado em 1471 por ajudar Richard Neville a destronar Edward em 1470, o duque continuou a antagonizar o irmão. Em maio de 1477, Edward prendeu Thomas Burdett, um membro da casa de Clarence (household) e John Stacey, um astrônomo descrito como um grande necromante.
Ambos foram acusados de “imaginar e calcular” a morte de Edward IV e do Príncipe Edward por meio de magia negra e planejar uma nova rebelião a favor de George Clarence. Os dois foram condenados e executados em um óbvio aviso para George. (Não há nenhum tipo de evidência que Margaret Beaufort e John Stanley avisaram o rei como acontece na série).
A resposta de Clarence foi interromper uma reunião do Conselho Real em Westminster para que John Goddlard (um pregador conhecido por expor publicamente o direito ao trono de Henry VI em setembro de 1470) lesse a declaração de inocência de Thomas Burdett e John Stacey.
Edward não estava presente para testemunhar a cena, mas convocou George para uma reunião em Windsor, onde relembrou o irmão das traições do passado e o acusou de usurpar a autoridade real ao prender e sumariamente executar Ankarette Twynho. Por perversão do processo judicial, George de Clarence foi levado a Torre de Londres em junho.
Em janeiro de 1478, o Parlamento denunciou o duque por traição. O próprio rei introduziu as acusações e apenas ele falou.
A ação incomum de Edward IV foi instigada em parte pela crença de que Clarence declarou abertamente que Burnett fora executado injustamente e que o rei era um bastardo sem direito a Coroa, além de todos os atos de traição no passado. Os crimes somados foram considerados tão graves que provocaram a seguinte sentença oficial:
O Rei, pelo conselho e consentimento de seus Lordes espiritual e temporal, e os Comuns, reunidos neste Parlamento, e pela autoridade do mesmo, ordena, inata e estabelece que o referido George, Duque de Clarence, seja acusado e condenado de alta traição.
Após o Parlamento aprovar a condenação, Edward hesitou por dez dias antes de ordenar o cumprimento da sentença. Para poupar o duque e a casa de York de uma execução pública (como era o comum na época), Clarence foi morto dentro da Torre de Londres em 18 de fevereiro de 1476.
Os rumores de que Clarence morreu afogado em um barril de vinho são provavelmente verdadeiros. O primeiro boato que se tem registro data de 1483, mencionado por Dominic Mancini. Mesmo que ele tenha dito vinho doce, “mollissimi faterni”, o texto foi interpretado como cretan ou malmsey (ambos vinhos gregos). A versão foi reportada primeiramente por escritores estrangeiros e depois por escritores locais, permanecendo na história.
A execução por afogamento não era proibida, mesmo que fosse exatamente incomum. A peculiaridade pode ter dado força para que a causa da morte espalhasse e perpetuasse.
É claramente improvável que George tenha escolhido morrer afogado no vinho preferido de Elizabeth Woodville para confrontá-la ou mandar qualquer tipo de mensagem.
A propaganda Tudor acusou o Duque de Gloucester de tramar a morte do irmão (algo desencorajado pelos historiadores), mas na realidade pode ter sido o contrário, Richard tentou interceder pelo irmão. Cecily Neville certamente tentou interceder pelo filho, sem sucesso, como retratado em The White Queen.
De fato, a responsabilidade da morte de George de Clarence pertence inteiramente de Edward IV, que viu a morte de George como politicamente necessária.
REFERÊNCIAS
BALDWIN, David. Elizabeth Woodville: Mother of the Princes in the Tower (English Edition). 2. ed. eBook Kindle: The History Press, 2011.
BARNFIELD, Marie. Diriment Impediments, Dispensations and Divorce: Richard III and Matrimony. The Ricardian, v. 17, p. 84-98, jun./2007. Disponível em: http://www.thericardian.online/downloads/Ricardian/17/07.pdf. Acesso em: 23 jul. 2020.
CORBET, Dr. Anthony. Edward IV, England’s Forgotten Warrior King: His Life, His People, and His Legacy. 1. ed. eBook Kindle: iUniverse, 2015.
DEAN, Kristie. The World of Richard III. 1. ed. Stroud, Gloucestershire: Amberley Publishing, 2015.
KENDALL, Paul Murray. Richard the Third: The Great Debate. 5. ed. eBook Kindle: W. W. Norton & Company, 1955.
LICENCE, Amy. Anne Neville: Richard III’s Tragic Queen. 1. ed. eBook Kindle: Amberley Publishing, 2013.
LICENCE, Amy. Edward IV & Elizabeth Woodville: A True Romance. 1. ed. eBook Kindle: Amberley Publishing, 2016.
MACGIBBON, David. Elizabeth Woodville: A Life : The Real Story of the ‘White Queen’. 1. ed. eBook Kindle, Amberley Publishing, 2013.
MARKHAM, C. R. R. Richard III: His Life & Character Reviewed in the light of recent research (English Edition). 3. ed. eBook Kindle: Createspace, 1905.
NORTON, Elizabeth. Margaret Beaufort: Margaret Beaufort. 1. ed. E-book: Amberley Publishing, 2010.
ROSS, Charles. Edward IV: Yale English monarchs . 1. ed. eBook Kindle, Yale University Press, 1997.
STARZ. The White Queen (A Rainha Branca) Episódio 7: Veneno e Vinho. Disponível em: https://www.starz.com/br/pt/play/18769. Acesso em: 15 jun. 2020.
STRICKLAND, Agnes. The True Story of the “White Queen”: Elizabeth Woodville . 1. ed. eBook Kindle, 1893.
WAGNER, J. A. Encyclopedia of the Wars of the Roses. 1. ed. Google Books: ABC-CLIO, 2001. p. 56-57.